quarta-feira, 25 de março de 2015

Resenha: Admirável Mundo Novo


"E esse - interveio sentenciosamente o Diretor - é o segredo da felicidade e da virtude: amarmos o que somos obrigados a fazer. Tal a finalidade do condicionamento: fazer as pessoas amarem o destino de que não podem escapar."
página 47


    Admirável Mundo Novo é uma distopia escrita na década de 30, portanto muito antes do boom de distopias adolescentes. Este livro é o vovô de todas estas distopias, as quais devo dizer são meros reflexos pálidos desta obra. 


    Em um futuro não muito distante, o mundo é perfeito e repleto de felicidade. Depois da revolução de Ford (aquele das montadoras de carros) não há guerras, não há crimes, os seres humanos vivem em perfeita harmonia com suas vidas e suas carreiras, e eles também não nascem do jeito convencional. Sim. Humanos não são mais paridos. Mas sim fabricados artificialmente, treinados, condicionados e separados em castas. Que vão desde os trabalhadores mais braçais aos grandes administradores. Neste mundo perfeito também não há lugar pra doenças, velhice, ou relações verdadeiramente humanas. E também não há religião, somente o culto à Ford. E se por um acaso você sentir que isto não esta certo, pode tomar um grama ou dois de soma. A droga da felicidade, que faz você viajar e esquecer tudo que te incomoda. E você realmente não precisa sentir mais nada. Nem pesar, nem tristeza, nenhuma emoção violenta o atinge. E a humanidade abdicou de sua liberdade em nome da felicidade plena. 
  
    É neste contexto que conhecemos Bernard Marx. Um rapaz das castas mais altas, mas que se sente deslocado por ser um pouco fisicamente diferente dos demais de seu grupo. Assim, ele decide fazer uma viagem para a “Reserva de Selvagens”. Um lugar do mundo ainda não civilizado, habitado por pessoas (a maioria indígenas mesmo) que ainda parem, se casam e envelhecem normalmente. 
   
   Neste lugar eles encontram John, um garoto branco, filho de uma mulher que veio da mesma cultura que eles, mas que se perdeu na Reserva. John é um garoto sincero, com princípios e que adora citar Shakespeare (ele teve acesso a uma surrada edição de Obras completas de William Shakespeare e desde então este volume tem sido sua ‘Bíblia’). O rapaz se sente deslocado desta tribo por sua cor e por sua origem. Então Bernard resolve devolvê-lo à civilização. Entretanto, John também não consegue se encaixar neste modelo de civilização. E é no atrito moral entre o que pensa o Selvagem e o no que a Humanidade se tornou que vai girar a melhor parte do romance. 

    Distopias clássicas não são como as distopias young-adult. Em que a mocinha ou mocinho toma parte numa revolução, e no fim tudo fica lindo. Tenho uma amiga que diz que não gosta muito de distopias por elas terem “um final que não tem final”. Eu acho que é mais do que isto. Creio que as distopias passam uma visão bem pessimista de um futuro, e esta visão não acaba quando o livro acaba. Nada se resolve tão bem, porque foi o monstro que o futuro se tornou e as pessoas estão presas a este monstro. Como um caminho sem volta. E isto é agonizante. 

    Uma das coisas que mais me assustam, é pensar em como estamos cada vez mais perto de um Admirável Mundo Novo. Este culto à beleza perfeita e padronizada, ao consumismo e a tecnologia que nos afasta cada vez mais de um contato verdadeiro. Estamos cada vez mais próximos de dar graças à Ford e a tomar nosso soma quando não nos sentirmos bem. Cada vez mais próximos da barreira de trocar nossa liberdade pelo nosso “bem-estar” e de nos distanciarmos cada vez mais do que é sermos humanos.

2 comentários:

  1. Eu tenho meio que um bloqueio com Clássicos, não sei pq :-/ Mas adorei de verdade sua resenha, Morgs e me deu muita vontade de ler. Acho, realmente, que estamos perdendo o tato com as relações "olho no olho". Mas vamos combinar que uma dose de soma, as vezes, não faria mal a ninguém. .hahahaha
    Adorei a resenha!! Parabéns pelo blog! :-*

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    1. Fabiana sendo Alessandro. :D

      Fabi, muito obrigado por seus comentários sua linda. Te amo.

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